Gostava tanto mesmo, “se” chegavas,
Enquanto eu acordava meus perdões!
E em mim, o tempo que silenciavas,
Alegrava sem minhas permissões!
Gostava tanto enquanto me guardavas,
Enquanto sussurravas-me canções!
E no amor meu tão puro tu reinavas,
E fomentavas as minhas aspirações!
Gostava tanto enquanto m’encantavas,
Enquanto desenhavas-me ilusões!
E minh'alma inocente tu abrigavas,
Enquanto te jurava adorações!
... Olha, o meu coração que a ti pertence,
Nem saudades, nem tempo, nada o vence!
Maria Barros
De barulho mesmo, ELA escuta apenas a leveza dos pingos da chuva calma e constante que insiste desde cedo e isso vai lhe causando u’a mistura de preguiça com saudosismo... Anda de um cômodo a outro e quebra o silêncio de dentro da casa, quando começa um diálogo e mais certo que seja com seu coração, pois que a razão, nessas horas, não costuma acertar num papo amigável e cúmplice... Prefere mesmo tagarelar com essa voz silenciosa dentro de si, talvez essa saudade profunda, a que lhe causa esse estado de melancolia e que grita lá de dentro de seu coração, que é o seu mais fiel cúmplice! Caminha até a janela, afasta um pouco a cortina e em meio a pouca iluminação que a noite chuvosa proporciona, não vê nem um sinal de alívio para sua solidão, a não ser pensamentos soltos e fragmentados e ELA, enquanto passeia seus olhos pela meia-escuridão vai tentando inteirar uma conversa com seu coração, que lembra muito bem de cada conversa, de cada suspiro, de cada momento desse seu motivo saudoso, das angústias causadas pelas ausências, dos palpitares do coração a cada volta e as chegadas do depois... Aproxima-se dela um dos momentos inesquecíveis: (ELE): _ Esse é o nosso CD... Se você sair de mim meu coração para! (ELA): _ Por que você nunca disse isso antes? (ELE): Existe sempre a primeira vez, não é? ELA sorri, pois esses momentos eram sempre únicos e são por eles que esse amor eternizou-se em seu coração, em su’alma! De repente um suspiro profundo, uma lembrança tão doce quanto privada lhe toma todo o corpo, o seu cruzar das pernas, o apertar dos lábios, não escondem a cena daquele sorriso lindo ao lhe dizer: _ Você está linda, maravilhosa! Era como se ELE agradecesse a ELA, aquele momento tão puro e tão unicamente, só pra ele! E era mesmo, tudo era só ele, todos os momentos foram só para ele, a vida dela seria somente ele...
ELA não sabe quanto tempo ficou ali perdida por entre os anos com seus momentos de mais pura felicidade e foram tão intensos, que nem a distância de hoje é capaz de modificar tantos sentimentos envolvidos no antes e mais os tantos reservados para depois e depois e depois...
Serra a cortina da janela deixando que a chuva continue, lá de fora, orquestrando toda sua história de amor... Caminha para sua escrivaninha, pega seu caderno e caneta e começa a escrever mais um texto envolvendo momentos eternos... (ELA): -Coração, diz pra mim...
Maria Barros
