A luz que entra pela vidraça do pequeno escritório não é o suficiente para animar ELA, as lembranças têm vindo mais fortes a cada dia e tem deixado o seu semblante em constantes ares, vezes de felicidade e outras de tristezas, numa disforia descontrolada! Mas tudo isso faz muito sentido, afinal, o seu amor está distante...! Porém, como disse um famoso filósofo, que o amor tem razões que a própria razão desconhece e ele, o amor, sempre envolvido e atento às peripécias naturais que ele próprio assume nos corações apaixonados, faz com que a mulher esqueça as saudades e num passe de magia, vive dos motivos que a leva às saudades, que por serem saudades, são momentos de um intenso derrame de sedução, amor e carinhos, inesquecíveis!
E nessa demonstração íntima, louca e tão sincera, ELA sente a presença de seu amor e vezes a tamanha nobreza, magnanimidade desse sentimento, a faz até ouvir a voz tão querida, a voz que ela distinguiria entre milhões de vozes a falar e até o perfume de seu homem amado chega-lhe num envolvimento de aproximação de pele e sexo que somente o sentido de fêmea apaixonada é capaz de fazer presente e verdadeiro o seu desejo...
_ Ah, amor meu! Essas lembranças que me guiam nos dias que passam mais se apertam as saudades, meu doce menino, que trouxe encanto para esse meu coração vazio! (O insensato destino jogou-lhe das nuvens ao chão, como numa avalanche impiedosa... E o tempo, aliado ao destino, esquiva-se diante seu clamor de ajuda em acalmar seu coração e não a livra dessa aflição e nem permite que morra esse seu amor... Na verdade, ela não quer que esse amor vá embora, senão não o estaria alimentando o tempo todo, não o estaria adorando e nem o teria colocado num pedestal em seu coração!
Levanta-se da escrivaninha e caminha até seu quarto, abre uma pequena gaveta da cômoda de onde retira dali um enfeite de cabelo, uma rosa vermelha e olhando ao espelho, enfeita seus cabelos com a rosa vermelha! E aos poucos vai desnudando seu corpo ávido de desejos, arrumou sua cama numa sedutora armadilha e ali se deitou, transformando-se num banquete canibal, para seu amor que se aproximava, ela sentia seu cheiro de lobo, trazido do agreste, forte, macho...
_ Deite-se e me possua como bicho, devora-me... Porque você não será mais de você, depois daqui... Será a presa de meu eterno desejo e cativo na armadilha que me prendestes um dia... , e nunca mais, meu caro e amado predador, confundirás cheiros de cio, pois essa mulher aqui, meiga e indefesa esconde uma feroz loba que se mostra quando acuada e que também sabe preparar armadilhas, mas sou uma fera proba e prometo te comer com requinte de fiel loba e mulher açucarada... ( Quando o amor é infinito, eterno, está sempre presente nu’a mistura de amor, saudades, ressentimentos, sim e lembranças muito mais boas, porque as desagradáveis acabam sumindo, principalmente quando inevitáveis, d’um caso mal resolvido! O que a afastou do ser amado foi tão somente a sabedoria de que uma Dama sabe a hora de ir embora e essa hora de ELA havia chegado!)
A noite se vai ao soprar insistente da aurora e o dia vai surgindo magnífico, carregando com muito cuidado, os sonhos e o amor infinito de ELA, que jamais se cansará de promove-los, junto à esse sentimento grandioso de amores eternos!
Sonhos...
Azul em tons, são os meus sonhos
feito fantasias sólidas
que ocupam todos os meus caminhos...
E em meu ninho castanho, ora risonhos,
ora tristonhos,
ora repletos de paixões fogueadas, ora cálidas,
ora cobertos em desejos insaciados...
Sonhos...
Que visto em odores de suores em fetiches,
Que enfeito-me como flores em canteiros,
Que assanham meu fogo em comiches
Como loucos e devassos bombardeios...
Sonhos...
Tão singelos, como a visão d’um anjo!!
Anjo azul..., que azul é seu beijo,
Quando parte em seu azul cavalo alado
Num aceno que não abranjo,
que vai deixando meu coração aleijo,
mesmo apaixonado..., amargurado!
Sonhos...
Que já brilharam feito pirilampos nas noites!
Eram noites azuis, eternas de esperanças e alegrias
Onde amores transbordavam afoites,
Onde desejos carregavam energias...
Sonhos...
Que ainda, ternos e eterno, sonhos!
Sonhos azuis em todos os tons...
Que voam sobre meu ninho...
Que silencia o coração sem tom e sons...
Sonhos...
Os que sonhei...
Os que são sonhos...
Os que em sonhos, fenecerei...
Maria Barros
