(PRIMEIRA PARTE)
Nunca foi fácil recomeçar e nem há de ser quando num caminho escolhido estreito, íngreme, escalvado e consequentemente acidentado, for arduamente castigo para quem carrega na alma a culpa do próprio calvário!
Nunca foi fácil recomeçar e nem há de ser quando num caminho escolhido estreito, íngreme, escalvado e consequentemente acidentado, for arduamente castigo para quem carrega na alma a culpa do próprio calvário!
Estava sendo assim para Su, apelido carinhoso que os mais próximos costumavam chamar à querida Susy... Su, sempre tão valente, mulher de fibra, acostumada a tomar a frente e atitude quando apareciam problemas na família e com algum amigo e não havia tempo ruim quando a hora de ajudar alguém aparecia. A vida de Su não era o que se diz, feita de calmarias. Já com seus trinta e quatro anos, não havia casado, mas rolava um pouco mais de uma década, um relacionamento de namoro com Daniel, um varejista da área de alimentos e considerado no local, um homem de boa situação financeira, mas em relação ao casamento e como diziam as bocas pequenas “não fodia e nem saia de cima” e a verdade é que Su nem alimentava mais esperanças de um dia casar-se com Daniel! Mas no fundo do coração da moça, depois de tantas idas e vindas durante esse tempo de namoro, já nem sabia mais se o amava o suficiente para consentir-lhe um casamento! Daniel, sempre muito garboso, considerado um dos melhores partidos da pequena cidade, filho único, sempre mimado demais pelos pais e avós, não era um exemplo de namorado e Su bem sabia de suas escapadelas e já nem ligava mais e é aí que a fazia crer que seu amor pelo rapaz já havia acabado e olha que fazia tempo, mas se acomodara com ele...A família de Daniel, tinha uma enorme consideração com Susy! Desejavam e lutavam para que acontecesse o casamento entre eles. Mas também, além da beleza física, Susy era mulher prendada, além de ter estudado Administração de Empresas numa universidade da capital e fizera muitos outros cursos nessa área e ajudava agora o pai no único escritório de contabilidade da cidade e que pertencia à sua família, família essa, de ótima situação financeira.
_ Olá, Susy! A moça que caminhava lentamente pela calçada, no centro da cidade, volta-se para a pessoa que a cumprimentara. _ Boa tarde! Conhecemos-nos? O rapaz, moreno, alto, um corpo atlético, de bela aparência, bem vestido; dá um sorriso de canto de boca , com rosto levemente inclinado... Su, rapidamente o descreveu mentalmente: _ Cara de cafajeste! E volta a perguntar-lhe: _ Conhecemos-nos? O rapaz aproxima-se e estende-lhe a mão direita afim de cumprimentá-la: _Você não a mim, mas eu jamais poderia esquecer u’a mulher tão bela! Su já estava acostumada a ouvir galanteios de paqueras fúteis com cariz meramente sexual e com certeza não seria diferente esse galanteador desconhecido! A moça, diante dessa resposta continuou andando sem dar importância à resposta do rapaz. _ Por favor! Creia-me, não estou brincando com você, Susy! Ela então para, volta-se e mais uma vez: _ De onde você me conhece, daqui da cidade que não é! A cidade não é muito grande e conhecemos praticamente a todos! O rapaz então, agora mais sério, responde: Conheço-te da capital, você costumava almoçar no mesmo restaurante, que às vezes, quando a serviço por aquelas bandas, eu também almoçava alí! Quando uma vez voltei afim de encontrá-la, não foi mais possível e então perguntei ao gerente que me apresentou duas moças, suas amigas e fiquei sabendo que voltara para sua cidade e eu, não sei porque ou quem sabe eu bem sei, estou aqui! Falou esbanjando um belo sorriso que pareceu aos olhos da moça, mais sinceridade que o primeiro sorriso... Susy finalmente deixa escapar também um leve sorriso o que anima o rapaz que vai acompanhando a moça pela calçada enquanto conversam...
_ Você já sabe meu nome e o seu? Como se chama? Pergunta a moça ao rapaz. _ Meu nome é Aaron (para estender mais a conversa o rapaz vai explicando...) e é uma forma francesa e inglesa do nome Aarão/Arão, que por sua vez é hebraico... Susy vai ouvindo o rapaz que cita a Bíblia, parecendo ser grande conhecedor da mesma. _ Que legal, Aaron! Você é muito ligado às coisas de Deus, da Bíblia... Você é Católico ou Protestante Cristão... O rapaz então dá uma paradinha e responde que é cristão e não tenha uma religião fixa, embora seus pais sejam católicos fiéis. A moça diz que é Católica fiel também, assim como seus pais e irmão, mas muitos de seus parentes são Protestantes Cristãos e outros, assim como ele, Aaron, também são Cristãos, mas não possuem uma religião...
_ O importante é adorar e ter fé em Deus, não é? Reflete o rapaz tendo a afirmativa de Susy.
A conversa vai se estendendo por horas sem que ambos deem conta que a tarde já vai se escondendo sob o manto da noite... O silêncio daquele momento do crepúsculo sempre teve para Susy, u’a magia, um encanto todo especial! É a hora da Ave Maria e ao pedir um minuto ao novo amigo, Susy reza silenciosamente a linda oração da Ave Maria, acompanhada pelo respeito silencioso do rapaz!
_ Estou encantado por você! A moça escuta a voz do rapaz carregada de admiração e sinceridade e, não antes de despedir do rapaz, ela o responde: _ Conversamos tanto de tantas coisas e eu esqueci de lhe falar que tenho namorado e espero que seu encantamento seja somente de pura admiração mesmo! Não quero perder essa nova amizade que começa entre nós! Deu para ver nitidamente uma ponta de decepção no semblante do rapaz ao ouvir da moça essa confissão e o mesmo lhe diz: Que pena Susy! Vim até sua cidade na esperança de encontrá-la, pois meu destino mesmo foi a cidade vizinha, sou médico e vim para um congresso e sabendo que você estava tão próxima, não resisti e vim encontrá-la! Juro que não lhe tiro do pensamento e agora essa confissão!
O rapaz estava tão perto que Susy podia sentir o perfume de seu hálito e num impensado ímpeto, os dois se abraçam e se perdem num beijo cheio de volúpia, numa satisfação íntima, que pelo menos para ela, há muito não sentia!
Maria Barros
(HUMMMMM! QUER SABER O QUE ACONTECE DEPOIS DESSE BEIJO? NÃO PERCA A PRÓXIMA PUBLICAÇÃO AQUI EM MEU BLOG)
São caminhos veredas tão floridos!
Aquarelas, fascínio sem igual!
Mas quem os trilha sem rumos, só idos,
Sabe dessa aquarela ciprestal!
Ao sangrar-lhe os pés, os pedregais,
Nesse chão de calvário, sua cruz...
Não há de lastimar sequer seus ais,
Até que encontre num fim, sua luz!
E nos tempos, sem beira e já falida,
A tez esbranquiçada e já mortal...
Não há, ainda, de ser a partida,
E nem um fim que espreita esse seu mal!
Pois, no fim dessas idas cruciais,
Encontrarás caminhos sem iguais!
Maria Barros
(Soneto inspirado na bela frase > "Perder-se também é caminho" de Clarice Lispector)