Morar num bairro cercado por grandes Escolas de samba, famosos blocos carnavalescos, clubes que promovem esses festejos e outras tantas manifestações carnavalescas que tomam os dias da grande festa profana de origem medieval é realmente um privilégio e quinhão para cada sortudo amante dessa festa, onde todos formam um só coração, sem distinção... E por ser uma festa democrática também, procuram-se respeitar os que não mostram em seus semblantes o desejo de carnavizar; os que realmente não curtem a festa e também os que por algum motivo não se ajeitam naquele momento às alegrias do folguedo...
Era mais ou menos o que acontecia com Floridia, embora a alegria da festa jamais a incomodasse, embora o som dos surdos e tamborins agitasse o seu sangue e a alegria gritasse seu nome: Floridia, Floridia vem ser feliz, esqueça pensamentos sombrios, esqueça saudades baldadas, esqueça, esqueça, esqueça... Jamais Floridia deixara que o mau humor do destino a escravizasse, mas não era somente isso, ela realmente não estava tomada pelo espírito do carnaval.
Floridia chegou até a janela, como se guiada pelos chamados inquietantes dos amigos, alguns menos e outros de todos os dias... Alguns sem máscaras e outros a maquiagem cobriam seus rostos, mas ela conseguia ver por trás da maquiadura de alguns deles, o mesmo espírito que o seu e pensa: Quanta desalegria! Que adianta essa explosão, quando a responsabilidade com os outros dias explodem muito mais abrasadora... O que o destino malfadado nos apronta na calada dessa festa? Ela, carinhosamente dá uns passos de samba, abraça seu próprio corpo como se abraçasse a cada um, lhes sorri enquanto lhes manda um beijo e volta para dentro da casa!
Não era somente a saudade que assola todos os dias e nem as lembranças que povoam deliciosamente dentro dessa saudade, tornando seus dias mais felizes ou menos felizes... Floridia optou em fechar-se no bloco de orações e pedir a Deus que nos próximos carnavais os blocos da alegria sejam de pura alegria mesmo e que nem precisem de máscaras e se a elas preferirem, que sejam somente por vaidade ao acessório belo! Exatamente como fora um dia...!
... E por falar em saudades, e por falar em suspiros...
Maria Barros
A noite vai chegando vaidosa,
Deitada em almofadas de cetim...
E ao olha-la assim tão pretensiosa,
Já sei amor, que tu estás vindo a mim!
E ao cheiro de paixão inebriante,
De tirar o juízo, eu endoideço!
E nessa ardência, imploro-te, meu amante;
Que me chegas do jeito que enalteço!
Deito-me sobre a noite com avidez,
Em seu calor sacio-me a paixão...
Rasga-me os véus em celebração!
E na ânsia que antecipa a lucidez,
Vejo-te indo e chamo-te, tu vens...
Aflitiva, eu nos faço reféns!
Maria Barros
Homens e mulheres exibiam com orgulho a Bandeira nacional adornando seus corpos e embora o calor estivesse infernal, partiam deles os sorrisos e satisfação de estarem ali com a Pátria no coração e a certeza n’alma de que era preciso lutar pela liberdade da terra Mãe que já vem vivendo há tempos um verdadeiro caos... Alguns transeuntes também paravam em sentido cívico e outros, junto aos que já estavam na marcha, cabisbaixos, não escondiam a emoção enquanto ouviam a canção Fibra de Herói; “... Se a Pátria querida for envolvida pelo inimigo, na paz ou na guerra defende a terra contra o perigo... Bandeira do Brasil ninguém te manchará, teu povo varonil isso não consentirá...”, e antes mesmo que a canção chegasse ao final, a comoção era geral... Lindo demais! Por Deus, quanto amor por esse berço esplêndido brilhou no céu da pátria nesse instante, desafiando em cada peito a própria morte_ Terra adorada entre outras mil, a mais amada! Tal qual seu Hino, seus filhos hão de defendê-la...
Por outros instantes meus olhos passearam pelos arredores do grupo e como flecha transpassando o coração eu vi sorrisos cínicos, debochados, de gente que à distância gesticulava sua oposição clara a respeito... “Que pena”! O ódio jamais vence! Mesmo que dure um tempo petrificando essas almas, o amor sempre vence!
E mais uma vez, seus filhos, Terra amada, com seus braços fortes mostrarão e lutarão até o fim por amor, respeito e lealdade a ti; Terra adorada entre outras mil, a mais amada!
Ao som que se podia ouvir até uma boa distância, com a consciência afinada com o compromisso e honra, dá-se início o Hino Nacional... Daí, o coração explode de tanta emoção: PÁTRIA AMADA, IDOLATRATA, SALVE...!
Maria Barros
À beira d’um riacho de águas cristalinas
Que beirava o belo e verde outeiro,
Morava um belo cantador e encantador cavaleiro,
que fazia palpitar os corações das meninas...
Ah! Como sonhavam as pequeninas
Com seu garboso seresteiro!
Também, no ponto mais alto da colina,
Onde nascia o belo riacho,
Cantava um pássaro, dono de um belo penacho,
E que fazia companhia a uma bela donzela...
Dizem que entre todas, era a mais bela menina!
Sonhava enquanto enchia d’água o seu vaso gamela!
Sonhava com seu príncipe encantado,
Que um dia viria montado em seu cavalo
e que a levaria a conhecer o mundo,
aquele além do horizonte, até ao mais afastado!
Ele seria feliz, porque muito ela iria amá-lo
Com o mais encantado amor profundo!
Uma noite, enquanto o cavaleiro cantava
Ia sonhando tudo que na melodia imaginava!
_ “Será onde vive quem o meu coração vai ganhar?”
- “Como será quem a minha vida vai alegrar?”
Um eco que cortava o silêncio, se fez ouvir
E um arrepio no corpo ele pode sentir...
O eco era d’um suspiro apaixonado,
Acompanhado por uma ave de canto afinado,
Num dueto de magias cortando a quietude!
Seu coração, sem saber por que, sentiu-se amado
E o seu ser tomou-se num angelitude
Fazendo seu coração vibrar em amplitude...
- “Que bela voz meus ouvidos ousam apurar!”
- “Não sabem eles que é perigoso ouvir canto d’uma fada?”
- “Não sabem eles que ela não pode ser desejada?”
Mas o canto trazia magias que chamava o amor,
Numa suavidade quase sussurrada
Que enchia-lhe de fascinação e ardor!!
O cavaleiro, tomado pelo desejo e fascínio
Partiu ao encontro da voz que já lhe exercia domínio!
- “Que loucura é essa meu coração?”
- “Por que explodes assim doido de emoção?”
- “Nem sabes ainda se lhe aguarda tão bela voz!”
- “Quem sabe errou o destino, o carteiro vento veloz!”
Mas o desejoso coração do cavaleiro
À colina acima foi subindo ligeiro...
E seu cavalo até parecia alado!!!
Seu coração sentia que era a sua amada,
A dona de tão bela voz delicada!
Estava ele por ela, talvez, enfeitiçado!!!
A menina que sonhava com o amor chegando,
Que cantava e encantava a natureza,
Sentia o amor vindo, com certeza!
- “Meu coração se inquieta, o amor já vem! Quando?”
- “Tenhas calma santuário do meu amor! Sejas brando!”
- “Vamos apenas cantar para guiá-lo nessa vasteza!”
O coração então se abrandou
e a menina voltou a cantar...
Seu canto de novo voou
Nos braços do vento condutor,
Própria personificação do amor!
Levava o canto a quem a menina iria afortunar!
Quanto mais o cavaleiro subia a colina,
Mais alto escutava a melodia divina!!
- “Continue seguindo a voz do amor, coração!”
- “Tão próximo está, que o meu ser levita”!
Tão apaixonado que seu coração ardente palpita!
E todo o seu ser transpira afeição!
O despertar de um grande amor,
Acende a luz da solidão...
O tempo esperado dura um segundo
E a vida de repente tem mais sabor...
Desejo d’amor vira condão,
Se ele é amor profundo!
E o belo cavaleiro ao topo da colina chegou.
Seus olhos passearam rápidos pela bela paisagem
E pousaram na figura da donzela tão amada!
- “És tu o amor que me chama, que em meu coração pousou...”
A doce menina com face rubra deixou o vaso cair na passagem
E olhava o seu cavaleiro completamente encantada!!!
- “Escutastes o meu coração, como em outras eras...
Ele perturbou-se antes da primavera,
Senti então que o amor estava tão próximo...”!
O cavaleiro extasiado pensava que tudo eram quimeras:
- “Estou sonhando!? Oh, Deus! Aqui termina a minha espera”!
A natureza celebrou aquele encontro ‘reapróximo’!
Ouviram-se orquestras de pássaros e folhagens,
O chuá do riacho era melodia de amor,
O vento ia levando os sons por todas as paragens...
O Sol que havia dormido acordou e a noite se fez candor!
Todo universo festejava o amor que aconteceu
O amor de todos os tempos, pois que nunca morreu!
Almas gêmeas que se reconhecem
E que sendo assim, a felicidades merecem...
E ali, às margem do riacho, ponto dessa espera
Tem-se fim uma saudade que o tempo não altera!!!
Vidas que se completam
E então, se aquietam.....
- “Meu coração que te ama, doce amada,
Que não se sabe o princípio e nem o fim
Dessa força maior que une nossa caminhada,
Que mais uma vez quer viver em teus braços,
Envolto no entrelace de nossos abraços!!”
Assim, [de joelhos] o jovem cavaleiro declara seu amor sem fim...
A moça, estando com o seu coração agora em paz,
Envolve as mãos delicadamente à face do rapaz
E com carinho, vai levantando o amado...
- “És tu a alegria que me voltas,
És tu, eterno, que traz-me essa paz que me envoltas...
Que fogueia esse meu coração apaixonado!”
Os amantes já abraçados selam o momento encantado...
...O dia já clareando encontrou os dois ainda namorando...
O amor dos dois é muito mais que um nó atado,
é fortaleza dentro do tempo que vai passando...
Não desata, pois que é caso consumado...
Não morre, pois que ’nos tempos’ vão se encontrando....
A notícia correu por todos os vilarejos:
- “O moço da colina está namorando...”
A moçada triste estava chorando...
- “Lá se foram os nossos desejos!”
- “O coração de nosso garboso cavaleiro está amando!”
Onde houvesse moças, escutavam-se lamentos e rumorejos!
O belo cavaleiro não se deixava envolver com esses assédios.
Não passava tudo de fogo das moças casamenteiras
[E ele já aguardava, de alguma forma, a sua amada...]
Para seduzi-lo, elas simulavam-se de todas as maneiras,
Aproximavam-se usando de todos os intermédios...
Mas nenhuma delas valia o sonho de uma vida esmerada!
No dia do casamento, ouve uma festa das mais belas!
Tudo ornado com flores vermelhas, azuis, brancas, amarelas...
A jovem amada foi a mais bela noiva vista, até então
Que deixou o moço mais apaixonado, num encantado coração!
A menina feliz, não conseguia esconder a sua felicidade...
E sempre juntinhos, foram felizes por toda eternidade...!!!
Maria Barros