Hoje o bater das águas do mar contra as pedras pareciam mais forte que nos outros dias! Nem um mínimo sequer de ruído das águas nas pedras passava despercebido aos ouvidos afiados de ELA, tão acostumados com a coreografia quase sempre tão afinada dessas águas... Mas também, como costumava dizer a todos, que morava praticamente dentro do mar... A parte da frente do apartamento, sem nada em alvenaria e sim todo de vidro e se deitada ou sentada em sua cama era somente mar e céu que se via e se debruçada à janela, ao olhar para baixo, ainda era mais mar que terra firme... Era um paraíso onde ela morava!
Mas hoje, o seu coração inquieto deixava-a pensativa! Já era meio da tarde e não demoraria o crepúsculo chegar... ELA já estava pronta, colocara um vestido de tecido fino e leve, bem verão, soltou seus cabelos que já alcançavam os ombros, passou um batom bem clarinho, para dar um brilho aos lábios, abriu o aparelho de som e deixou engatilhado um de seus CDs preferidos: Ernesto Cortazar. Suspirou fundo e sentou-se diante à janela para esperar a hora do crepuscular!
Seu coração disparava conforme as horas iam passando e hoje também um pouco inquieto, porém transbordado de alegria e encantamento! ELA levanta por uns instantes e liga o som, a primeira música que vai enchendo o ambiente em harmonia e êxtase era “Together” e à esse momento, ela volta à janela e num instante já está sentada em uma das pedras à beira do mar...ELA olha impaciente algumas vezes para o lado, de onde vê-se a beira da praia e seu coração pula de pura felicidade ao avistar o encanto de todo o seu ser, de toda sua existência... Era ELE que se aproximava fazendo todo seu corpo tremer de emoção! Era assim todas as vezes e será sempre assim...
_ Olá, bela! Eis-me aqui para você! Falou o seu amado com uma voz e palavras que não lhe era acostumada aos ouvidos ...
Uma pontada doída tocou seu coração e ELA sentiu sua alma curvar-se à dor! _ Por que fala assim desse jeito, como se não quisesse estar aqui, por querer? Que acontece, meu amor?
ELE nada responde e com um olhar triste fica olhando o pôr do Sol, que sozinho, sem a atenção e admiração deles, faz seu espetáculo para outros em tantas outras partes desse mundo! E assim fica por uns bons minutos e ele sabe que ELA o olha sem saber o que falar, o que fazer... Talvez ela esteja com medo de respostas que por tragédias possam vir de sua boca! Num impulso ele se aproxima dela e a abraça e pode assim sentir um suspirar de alivio vindo dela...
_ Você está triste meu amor? Fala pra mim! Você sempre sabe que eu faço de tudo para te ajudar a se animar, ajudar no raciocínio de soluções... ELA fala com a certeza de que ele sabe da veracidade de suas palavras... ELA o ama, simplesmente!
ELE falou tantas coisas! Falou tudo e nada, pois que ELA, já tão acostumada a ele, sabia quando mentia e muitas de suas verdades, tantas vezes camufladas, que ELA nunca sabia se era verdade ou não! E foi assim que de repente ele se solta do abraço e com uma voz um tanto sagaz e um tanto emotiva ao mesmo tempo, lhe fala:
_ Nunca estive com você nesse mar, nessas pedras, nesse sonho... Nunca estive aqui tão próximo como se eu fosse de você! Esse Sol que se põe à nossa frente, não é admirado por nós e esse momento não existe... O tempo passou e acabou e é só isso!
Ah! Não me acorde desse sonho! Não me deixe saber que seja somente u’a miragem vista e guardada em algum lugar de meus desejos... Não me mostre a verdade, que esse crepuscular jamais encheu nossos olhares românticos a anunciar uma noite de encantos, de malícias ao entregar de nossos corpos... Não escureça a minha vida em pesadelos ao desencantar-me os sonhos...! E aos poucos, ELA foi abrindo seus olhos banhados em lágrimas que brilhavam feito diamantes! O aparelho de som já havia tocado todas as músicas e automaticamente desligado! A noite já chegara para desgosto de ELA que já sabia que teria ela toda, a noite, para penar em sua desventura!
_ Ah, sonhos! Esses meus! Sem direção!
Sonhos sonhados numa tarde vã!
Sobre pintura fresca d’ilusão,
Qu’abrem cortinas de ventura sã!
Nem o Sol planteou raios de luz!
Nem o Céu guardeou cumplicidade!
Nem o crepuscular viril, seduz,
quando não houver no amor, fertilidade!
É sempre frio, triste, o despertar,
D’uma história de amor feito de sonhos!
Dos caminhos, o fim! Ficam enfadonhos!
Ah, despertares de meu destinar!
Deixam-me sonhar! Deixam-me encantar!
Se tenho asas, deixam-me voar!
(Se tenho asas... Maria Barros)
Maria Barros
(O Soneto "Se tenho asas..." (Autoria de Maria Barros) é parte integrante do texto poético "Se ainda restam-lhe sonhos!" (Autoria de Maria Barros)